sexta-feira, 21 de março de 2014

Sobre Dilces, Dida e Dudi

Foram duas.
Duas perdas em menos de um ano.
Perdi as duas Dilces da minha vida e do meu coração.

A primeira Dilce era mulher forte, de fé inabalável e coração imenso. Carinhosa. Mãe de nove filhos e esposa dedicada e trabalhadeira.
Irmã de meu pai. Única irmã. Companheira da sua infância e vítima de suas peraltices. Dida era como ele a chamava. Ele era Dedé.Hoje com o entendimento que tenho penso com mais tristeza ainda o quanto meu pai morreu jovem e o quão pouco ele aproveitou realmente essa família primeira. Seus pais e sua irmã. Seus tios e primos. E depois com a morte de minha avó e o segundo casamento de meu avô, os outros seus irmãos. Meu pai ingressou muito jovem na Marinha e servindo, ficava muito tempo fora de casa. Cresceu aprendendo a se virar sem a convivência da família. Família essa que sua irmã, minha tia querida, aproveitou, conviveu e uniu sempre que pode com cartas, telefonemas e com as viagens, quando a vida deu condições para ela retornar a cidade natal. Assim também ela fez com meu pai, quando se reencontraram vinte anos depois. Eram cartas, telefonemas e visitas que deram um brilho novo aos olhos de meu pai e a nós, suas filhas, uma descoberta de novos primos, novas terras e nova vida. Meu pai se foi muito jovem, em agosto de 1984, perto de completar 64 anos, vitima de um cancêr de próstata. Mas os laços já estavam refeitos. E como tudo que Deus planeja é para o nosso bem, esse reencontro dos irmãos mesmo que tardio, os uniu para sempre.Nunca mais eu, sua filha caçula, me separei dessa sua família. Pelo contrario, eu a tornei verdadeiramente minha família ao me unir em matrimônio ao quase caçula de minha tia, meu primo legitimo e de primeiro grau (sim isso é possível, pode fechar a boca de espanto, mesmo porque nos conhecemos já grandinhos), meu querido marido José Carlos, pai dos meus três lindos filhos e netos queridos dessa D Dilce, minha tia e sogra de quem tenho tanta saudade. D. Dilce que me acolheu no início com alguma desconfiança (será que eu faria seu filhinho feliz para sempre? - sou incansável nessa tentativa) mas que pouco tempo depois abriu seu coração pra mim e me conquistou como filha verdadeiramente. Saudades da sua companhia, da sua risada e do jeito que ela pegava em meu braço quando queria me contar algo em segredo ou apenas se apoiar ao andar nas ruas. Saudades , saudades, saudades...

A segunda Dilce também era mulher forte. Tinha sua fé ao seu modo e tinha também um coração grande e seletivo, porém, uma vez conquistado (prazer de poucos)tinha para sempre seu carinho. Mulher de opinião e instinto sagaz. Poucas vezes errava sobre seus instintos. Não fosse ela com a cara de alguém, assim logo de primeira, pronto! Lá na frente e bem depois as vezes, tínhamos que dar o braço a torcer: ela estava certa. Essa era minha irmã. A terceira filha de mamãe e a primeira da união dela com papai. Recebeu o nome da tia numa homenagem e vivia se gabando disso. Eu e ela tínhamos uma diferença de sete anos de idade. Isso significa que, na infância eu estava sempre atrás dela como uma pulga: pulando em cima e incomodando, levando passa foras e apertões quando necessários. Aliás eu, como mais nova era a pulga das outras irmãs também, mas as duas primeiras Mirtes e Teresa, quinze e treze anos mais velhas do que eu respectivamente, se casaram e logo saíram de casa, ficando minhas "pulguices" voltadas para Dilcinha, como a chamávamos.
Essa Dilce era Dilcinha, Dilcinete, Dudi. E para mim, só para mim Piu, Abner e Gladys*. Ninguém mais a chamava assim, só eu. E tínhamos hora certa pra isso. O Piu era de um carinho extremo e de referência a nossa infância. O Abner e Gladys* eram completamente sarristas e usados para uma espicaçar a outra em alguma questão onde a outra, fazia papel de idiota ou tinha passado por alguma situação de burrice total. Nos apelidávamos e ríamos muito. Aliás, rir era o que mais fazíamos juntas quando não estávamos discordando de alguma coisa. Porque Dilce era geniosa, birrenta e marrenta. Mas Dilcinha era engraçada, e tinha resposta pronta pra tudo. Dudi era meu xodó e Piu minha alma e meu lado esquerdo e/ou direito... Sinto falta de analisar seu jeito, conviver diariamente com sua implicância e inteligência nata (santa internet nos permitia isso) e com o seu levantar de sobrancelhas implacável. A vida nos mudou de cidade, mas a convivência ia e voltava...ás vezes ficávamos longos tempos sem nos falar porque cada uma cuidava de sua vida, trabalho, filhos. Mas estávamos lá e bastava um toque e tudo voltava. Fico triste quando penso nos momentos que perdi da vida dela e que um dia ela me disse o quanto não gostava de pensar nisso, no fato de não estarmos juntas em momentos importantes da nossa vida. Isso dói em meu coração quando penso nessas duas que me deixaram num espaço tão curto de tempo, uma da outra.
Elas foram tão importantes na minha vida que jamais as esquecerei.                                                        
Tia querida ainda ouço sua voz quando rezava a Consagração a Nossa Senhora: " ó Minha Senhora! ó Minha Mãe...."
Piu queria só mais um dia de conversas e risadas...me perdoe por não ter chegado a tempo, meu coração se despedaça por isso...te amo tanto!
Minhas lindas olhem por nós aí do Céu....


* Abner e Gladys são personagens do seriado dos anos 60/70   "A feiticeira"(quem é cinquentona há de lembrar) Gladys era a vizinha fofoqueira que sempre se dava mal e Abner seu pacato marido)
http://www.youtube.com/watch?v=c7elOiTtxzs

Escrito por Irma Brazil

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