quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A dobra

  Eu estava  uma reunião de senhoras. Mas não contem pra ninguém que era uma reunião de senhoras. Se essas mulheres forem da faixa etária de 40 até 60 anos, não é seguro dizer senhoras...nem usando a velha história de ser respeitoso, geralmente nós não queremos  ser tão respeitadas assim... Diga apenas que era uma reunião de amigas, encontro de amigas, café das amigas ou qualquer coisa que não seja de senhoras, para senhoras, exclusivo para senhoras.
  Pois é. Eu estava num encontro de amigas. Lá conversamos de tudo mas principalmente de nós mesmas e de nossas mazelas e alegrias. A maior parte do assunto são alegrias, graças ao bom Deus. As mazelas ficam por conta da idade e suas consequências, Não sei quem foi que puxou o assunto, mas demos muitas risadas, afinal a natureza muitas vezes é cruel: não podemos mais com certas coisas, então o jeito é comentar e ouvir da outra que com ela também é assim, que é pra gente se sentir normal! Não podemos mais com certos decotes (os seios - naturais- não são os mesmos, não dá) cada sandália linda, mas dependendo do salto, também não dá. Se são altos as varicoses não permitem, se são as rasteirinhas, minhas preferidas, as varicoses também não permitem - são umas cretinas essas varicoses e ainda tem a postura, que bláblábla dói pra caramba!! Ficar agachado por 5 minutinhos? Nem pensar...
  Então no meio dessa conversa surge a pérola:
  - E a dobra do cotovelo?
  Todas nos viramos para aquela novidade.
  -Dobra? Que dobra, Jesus?
  -Vocês não notaram a dobra que se forma em cima do cotovelo, quando a gente fica mais velho? É sim, podem olhar. Fica uma pelanca cobrindo o cotovelo. É horrível mas acontece.
   A risada foi geral, mas ninguém se atreveu a olhar, sequer a pensar no próprio cotovelo.Continuamos a falar das coisinhas que nos incomodam no dia a dia. Ah, tantas coisas que deixaram de ficar simples pra ficarem complicadas! Sem contar que você vê uns cabelos brancos brotarem na sua cabeça sem serem convidados. De repente suas amigas vão clareando o cabelo. Começam com mechas claras e quando você se dá conta somos todas meio loirinhas!! As mais ousadas e moderninhas  escolhem uns tons avermelhados e dizem estar na moda! Ó céus!
  A conversa continua sobre o tempo. Não o tempo - clima, mas sim o tempo implacável, aquele que não adianta guarda chuva pra nos proteger, não adianta a reza mais poderosa contra ele. E ainda temos que agradecer, sim porque é bom ficarmos velhas: sinal que não morremos ainda!
  Mas e o corpo? Ihhh terreno perigoso esse! Existem aquelas que malham, mas no fundo fazem uma caminhada e olhe lá...o bom mesmo é reunir a família e comer. Reunir as amigas e comer. Quando se combina o encontro logo perguntamos:
  -O que eu levo?
 Manter a forma fica difícil mas na hora da boa conversa ninguém se importa muito com isso afinal o bolo de laranja está ótimo e a torta de frango um espetáculo.
  Amigas dessa idade adoram uma nostalgia: hummm quando éramos novas fazíamos e acontecíamos e jamais isso ou aquilo. Agora temos marido, casa, compromissos, os filhos. Quando éramos novas aproveitávamos a vida. Agora os filhos cresceram e tomaram o próprio rumo. Ficamos  emocionadas com a história de uma amiga que está com a filha em outro estado e de como é a adaptação de uma sem a outra.
  Filhos são maravilhosos mas todas concordam  que eles não arrumam o próprio quarto. Eles tem isso no DNA só pode. Uma já é avó e fala com doçura sobre o neto. Outra já já vai ser e fala da expectativa de ser mãe com mais açúcar...
  E por falar em açúcar o lanche continua maravilhoso....no pratinho misturamos o doce e o salgado sem vergonha de ser feliz assim como na conversa misturamos os assuntos sem compromisso. As conversas surgem e são sobre tudo. As risadas são constantes e assim a tarde vira noite e é hora de nos despedirmos com a promessa de logo nos encontrarmos de novo.
  Sigo pra casa pensando em como sou abençoada por ter tantas amizades bacanas. Como é bom papear e trocar idéias, sem aquele compromisso das palavras certas e do julgamento das outras. Diante da experiencia adquirida pela vida sabemos que o que falamos ali não causa constrangimento ou julgamento porque a amizade nos dá essa segurança.
  Mas tem algo que ficou incomodando como uma pulga atrás da orelha. A tarde toda senti ela me picar o pensamento e me sugar a atenção... Será?
  Chegando em casa, corro pro espelho, tiro minha blusa e me viro de costas. Braço esticado pra poder observar melhor: Ufa...eu ainda não tenho a tal dobra no cotovelo!!!

Por Irma Brazil

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